quinta-feira, 15 de setembro de 2011

IV Congresso do PT, por uma jovem mulher socialista


* Louise Caroline

            É movida por um grande sentimento de orgulho petista que apresento aos companheiros e companheiras uma breve avaliação de nosso IV Congresso que antecipa uma não tão breve opinião acerca do período histórico que vivemos e viveremos nos próximos anos, quiçá décadas, a ser apresentada em texto posterior. Não é que o IV Congresso, por si só, abra uma nova janela política para o PT e a esquerda brasileira, mas podemos dizer que esse fórum partidário escancarou o que antes era apenas fresta.
            De início, registro a alegria do encontro com tantos militantes, amigas/os petistas, de todos os cantos do país e tantos cantos ideológicos, embalados por um clima de alto astral e esperança com os rumos da nossa política. O que vimos no IV Congresso foi a experimentação de um formato mais aberto, mais organizado, mais flexível, mais leve de tomar decisões coletivas.
            Éramos 1.350 delegadas e delegados, representando, portanto e aproximadamente, 1% da comunidade petista oficial do Brasil e, indubitavelmente, muitos milhões dos simpatizantes de nosso partido que já angaria 35% da preferência nacional. Ouso afirmar que, mais ainda, representávamos também a esperança da esquerda latino-americana, dos povos oprimidos na África, de uma social-democracia esfacelada na Europa: todos com os olhos voltados ao PT e aos próximos passos da revolução democrática que implementamos no Brasil e que contribui para os ventos progressistas tomarem conta de todo continente.
            Falamos do IV Congresso do PT, a maior instância de decisão do maior partido de esquerda da América do Sul. Instância tão superior que só foi convocada quatro vezes em mais de 30 anos. Falamos de uma Reforma Estatutária, que, comparativamente, é uma constituinte interna. E falamos sobre um processo em que a maioria numérica - da qual não faço parte, decidiu se abrir às possibilidades de uma maioria política, que não inclui todos os seus membros e que inclui membros de outras tendências e posições.
            Essa ousadia de setores do campo Construindo um Novo Brasil, encabeçados pela liderança do Presidente da Comissão de Reforma do Estatuto, companheiro Ricardo Berzoini, associada à disposição ao diálogo do segundo maior campo partidário, a Mensagem ao Partido, onde me organizo, e, ainda, somada ao tensionamento à esquerda dos setores minoritários, levou o PT a um Congresso em que qualquer coisa poderia acontecer. E essa possibilidade da democracia é instigante e fortalece a certeza de que o PT, com todas as suas contradições, é o espaço partidário que permite aos socialistas e à classe trabalhadora do Brasil depositar sua organização e esperança no novo mundo que mobiliza a nossa existência.
            A principal expressão dessa possibilidade foi a votação que decidiu limitar os mandatos parlamentares consecutivos, sem dúvida o momento mais disputado do Congresso e revelador da disposição do Plenário em renovar os quadros políticos do PT, limitar a força interna dos mandatários e, subjetivamente, revelar insatisfação com a forma organizativa que hoje domina o partido. A votação chegou a ser repetida três vezes e ao final a proposta modificativa obteve mais votos do que no início. Sem dúvida, muitos delegados da CNB, que através de Berzoini foi contra a proposta, apertaram o número 1 de seu crachá eletrônico e mandaram o recado de que, no PT, parlamentar não é posto, é tarefa. E que essa tarefa, como qualquer outra, pode e deve ser realizada de forma alternada e diversa. Orgulho tivemos nós, da Mensagem ao Partido, que apresentamos a proposta e a vimos sendo defendida com coragem por dois deputados federais, Reginaldo Lopes e João Paulo Lima e Silva, mais apegados à importância de renovar a política do que renovar seus mandatos.
            De toda forma, mesmo nessa votação, cabe ressaltar a qualidade das intervenções políticas. A defesa de Berzoini foi politizada, reflexiva e convincente. Assim como foi empolgante o embate entre Genoíno e João Felício que em três votações seguidas se contrapuseram acerca da relação dos Movimento Sociais com o PT. Confesso que ao final da fala de cada um deles, a vontade era votar a favor, mas fiquei com João Felício em todas as ocasiões, com a certeza de que via ali embates históricos sobre temas fundamentais e controversos à esquerda em todo mundo ao longo de todos os tempos.
            Que outro partido no Brasil debate essas questões, e ainda assim, abertamente, e mais ainda exposto a qualquer resultado? Vejam que João Felício e Genoíno são ambos da CNB, o que comprova que as cartas marcadas deram lugar a um debate de alto nível que precisa se reproduzir nos estados e municípios onde, infelizmente, o esvaziamento, os blocos estáticos e a prioridade - às vezes exclusividade - dos debates eleitorais ainda é regra.
            Uma coisa que gostaria de dizer é que considero fazerem falta os que saíram do PT para fundar o PSOL. Imagino quanto mais avançadas poderiam ser nossas resoluções se, mesmo numericamente pequenos, mais socialistas estivessem disputando as ideias de nosso IV Congresso. Por outro lado, talvez, a presença desses setores impedisse uma flexibilidade tão grande por parte do campo majoritário... Fica apenas o registro aos tantos petistas que se espremem no estreito e fraticida PSOL que o PT reapresenta possibilidades de disputa e que lugar dos socialistas é no partido referência da classe trabalhadora.
            Deixei para o final do relato as duas conquistas que mais emocionaram às mulheres e à juventude, que dirá a esta jovem mulher que escreve. A paridade de gênero e a cota de 20% para jovens não são, contudo, conquistas setoriais. São conquistas do PT. Mais ainda, são conquistas de uma nova cultura política para o Brasil e para o mundo. As lutas pela igualdade de gênero se concretizam quando uma mulher ocupa um lugar de direção antes pertencente a um homem. A renovação da política se concretiza quando um jovem é incluído no processo decisório. Hoje, o Diretório Nacional do PT, com 81 membros, não tem sequer um jovem! A partir do próximo PED, serão pelo menos 16. Qual o significado disso para o futuro do PT? Sem dúvida, mais ousadia e uma vida muito mais longa ao socialismo petista.
            Queria ter a capacidade de transmitir aqui a emoção que contagiou o Plenário nessas votações. Queria ter registrado a imagem de cada companheira que chorou no momento da aprovação da paridade. Principalmente as companheiras que há décadas lutam pela participação das mulheres na política e que sofrem o machismo cotidiano do espaço público, forjado no espaço privado. Jamais esquecerei o tom da fala da companheira Benedita da Silva, mulher negra que simboliza as portas da inclusão política abertas pelo PT, que também aprovou composição das direções fidedigna à composição étnico-racial de cada estado.
            Mas, principalmente, queria poder antever quantas beneditas, rosários, arletes e lulas iremos encontrar daqui pra frente, quando mulheres e jovens   puderem participar com mais igualdade e representatividade de nosso partido e da política brasileira.  
            É que além de ser uma medida inclusiva, esta também é uma medida de avanço progressista no conteúdo dos debates ideológicos. Mulheres, jovens, negro/as e indígenas, historicamente excluídos do processo político, tendem a se posicionar de forma mais ousada. Prova disso é que o PT aprova agora a paridade de gênero, coisa que a Juventude do PT já pratica há alguns anos. O Movimento de Ação e Identidade Socialista, tendência em que me organizo no PT, ao lançar chapa própria no último PED em Pernambuco, já trouxe metade de homens e metade de mulheres em sua composição. Nossa ousadia contagia!
As decisões do IV Congresso fazem do PT um exemplo para a Reforma Política que o Brasil tem debatido. Que partido defende voto em lista e faz uma lista antes pra seus processos internos? Que partido defende alternância de gêneros na lista fechada e já decide fazê-la pra sua própria organização? Que partido quer renovar a política e inicia renovando-se? Que partido defende a democracia e aperfeiçoa um processo de eleições diretas pra suas direções? Que partido cria critérios para a filiação e se mantém compromissado em ser de massas? Que partido ergue a causa do financiamento público de campanhas eleitorais e cria um fundo partidário para financiar suas campanhas internas? Esse partido é o PT.
            Em tempos em que o suposto combate à corrupção serve de subterfúgio para a negação da política, nada melhor do que um partido vivo, democrático, participativo e coerente para reafirmar que a política só muda com mais política.
            Vida longa ao PT! Vida longa à luta socialista no Brasil e no mundo!
           
*Louise Caroline, militante do MAIS/PE, delegada da Mensagem ao Partido no IV Congresso do PT.
           

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